Coordenação: Gelson Luis Roberto

 

Esse Núcleo foi criado em correspondência às diretrizes da AME Brasil que instituiu o Núcleo Espiritismo e Psicologia como parte de seu projeto.

Consoante a proposta da AMERGS que tem como lema “saúde: perfeita harmonia da alma”, o Núcleo de Espiritismo e Psicologia tem como objetivo principal buscar essa interface entre Espiritismo e Psicologia para o estudo, pesquisa e promoção da saúde psicológica e espiritual do ser humano. Em “A Gênese” Kardec é enfático quando afirma que Espiritismo e Ciência se completam reciprocamente, pois a Ciência (assim constituída) sem o Espiritismo se acha impossibilitada de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria e ao espiritismo sem a Ciência faltariam apoio e comprovação.

Kardec, já em 1858, ou seja, há mais de 150 anos propunha quando criou a Revista Espírita, tendo como subtítulo o nome jornal de estudos psicológicos, justamente por saber que a proposta espírita é buscar conhecer a alma humana, através do espírito imortal, em suas faculdades e sentimentos, seu modo de vida e de relação. Assim a proposta busca essa condição radical que Kardec também apresentava de uma psicologia atenta a sua própria definição: Psiche: alma, Logos: palavra que depois com Heráclito assumiu o sentido de razão e modernamente de tratado.  Assim psicologia é o estudo ou reflexão sobre a alma, uma psicologia que devolve a alma seu próprio território que foi ocupado pela visão materialista onde a alma foi trocada pelo comportamento, fruto de uma biologia apenas. Queremos dar a alma sua própria autonomia, com suas leis e necessidades.

Com isso entramos numa nova fase, uma nova perspectiva que conforme Joanna de Ângelis, em entrevista dada por Divaldo, “é de criar uma mentalidade capaz de não ficar apenas nos teoremas doutrinários, mas nas soluções comportamentais. Retirar o movimento espírita, que está encarcerado nas Casas Espíritas, para equacionar os problemas da criatura onde a criatura estiver. Levar a mensagem para mudar o mundo, através da mudança social, moral, econômica, porque, conforme Kardec, o Espiritismo tem a ver com todos os ramos da ciência, não apenas da ética-moral da filosofia, mas também da psiquiatria, do comércio, da indústria, dos relacionamentos humanos, dos direitos humanos. Nós vamos colocar as bases da doutrina no pensamento social para mudar a sociedade. Este é o novo desafio.”

Espiritualidade é uma dimensão da natureza humana que vem recebendo grande atenção por parte de importantes centros de pesquisa mundiais, dos órgãos fomentadores dessas pesquisas, de instituições sem fins lucrativos que visam promover e melhorar a saúde humana, de governos1,2 e de entidades privadas prestadoras de serviços de saúde. Em décadas recentes, especialmente nos últimos 15 anos, tem ocorrido um crescente interesse acadêmico e do público em geral em relação à importância da espiritualidade no contexto da saúde. Revisões sistemáticas da literatura acadêmica têm identificado mais de três mil estudos investigando a relação entre religião, espiritualidade e saúde3,4,5. Mais de 75% das escolas de medicina norte-americanas introduziram a espiritualidade em seus currículos6,7,8. Faz-se abaixo um breve resumo das principais conclusões atuais sobre os efeitos da espiritualidade e de práticas espirituais na saúde humana9,10:

  1. O bem-estar espiritual melhora a função imunitária e reduz significativamente o estresse relacionado a doenças oncológicas.

  2. É um fator preponderante de qualidade de vida nas doenças oncológicas e neurológicas degenerativas.

  3. Aumenta capacidade de enfrentamento de doenças (coping positivo), aumenta o vigor em doenças crônicas e melhora a reabilitação de vítimas de traumatismo crânio-encefálico.

  4. Fundamental no tratamento paliativo e no cuidado integral.

  5. Pode ser um importante recurso de enfrentamento (coping positivo) nas doenças mentais e, eventualmente, pode exacerbar a doença (coping negativo), quando reforça sentimentos de culpa e punição.

  6. Reduz tempo de hospitalização.

  7. Aumentar a resiliência de pacientes e de cuidadores, leigos ou profissionais.

  8. Ferramentas derivadas de práticas espirituais (mindfulness e a oração) mostram efeitos robustos na cognição, emoção, comportamento, resposta imune e na estrutura e funcionamento cerebral (neuroplasticidade).

Este breve sumário das grandes implicações da espiritualidade sobre a saúde humana dão legitimidade e sustentação científica para que a AMERGS, consagrada em sua origem à finalidade de atender a integralidade da saúde humana, nos seus aspectos psíquicos, físicos e espirituais, congreguem esforços para oferecer a população uma sustentação teórica e um atendimento espiritual espírita.

Podemos então nos perguntar o que a ótica espírita pode oferecer de novo para a Psicologia? É que o Espiritismo, analisa Joanna de Ângelis, “sintetizando diversas correntes de pensamento psicológico e estudando o homem na sua condição de Espírito eterno, apresenta a proposta de um comportamento filosófico idealista, imortalista, auxiliando-o na equação dos seus problemas, sem violência e com base na reencarnação, apontando-lhe os rumos felizes que deve seguir.” (Joanna de Ângelis – O Homem Integral – introdução). E na introdução do livro Autodescobrimento ela completa que “muito antes da valiosa contribuição dos psiquiatras e psicólogos humanistas e transpessoais…, que colocaram a alma como base dos fenômenos humanos, a psicologia espírita demonstrou que, sem uma visão espiritual da existência física, a própria vida permaneceria sem sentido ou significado”.

O Núcleo desenvolve duas frentes de trabalho, uma são os cursos da Série Psicológica de Joanna de Ângelis e a outra é uma proposta chamada Espiritismo na prática que visa oferecer um espaço reflexivo e vivencial, a fim de promover um trabalho interior em favor da reforma íntima preconizada pelo espiritismo através da mensagem de Jesus.

 

Referências Bibliográficas

  1. National Center for Complementary and Integrative Health- NIH. https://nccih.nih.gov/
  2. Spiritual Care Matters. An Introductory Resource for all NHS Scotland Staf. http://www.nes.scot.nhs.uk./media/3723/spiritualcaremattersfinal.pdf
  1. Harold G. Koenig. Spirituality, and Health: The Research and Clinical Implications. International Scholarly Research Network ISRN Psychiatry Volume 2012, doi:10.5402/2012/278730
  2. Koenig HG. Religion, spirituality, and health: a review and update Religion, spirituality, and health: a review and update
  3. WPA Position Statement on Spirituality and Religion in Psychiatry.http://www.wpanet.org.
  4. Puchalski CM et al. Spirituality and health: the development of a field. Acad Med. 2014 Jan;89(1):10-6. doi: 10.1097/ACM.0000000000000083.
  5. Puchalski CM1, Vitillo R, Hull SK, Reller N. Improving the spiritual dimension of whole person care: reaching national and international consensus. J Palliat Med. 2014 Jun;17(6):642-56. doi: 10.1089/jpm.2014.9427
  6. Towards an Outline for an Undergraduate Medicine Curriculum in Spirituality. UTMJ. Vol 89, number 2, March 2012. utmj.org/index.php/UTMJ/article/download/1386/1240
  7. Greeson JM. Mindfulness Research Update. Complement Health Mindfulness Research Update: 2008. Complement Health Pract Rev. 2009 January 1; 14(1): 10–18. doi: 10.1177/1533210108329862.
  8. Young SN. Biologic effects of mindfulness meditation: growing insights into neurobiologic aspects of the prevention of depression. J Psychiatry Neurosci. 2011 Mar;36(2):75-7. doi: 10.1503/jpn.110010.