Em tempos de delação premiada, propina, corrupção e tantos outros termos que estão mostrando a crise moral em que o nosso país está imerso, qual será a repercussão para nossas crianças e adolescentes?
Aqueles que foram colocados no centro do poder político por nós e, deveriam salvaguardar a ética acima de tudo, estão mostrando que respeito e honestidade não fazem parte da formação dos cidadãos. Com isso, sobra para todos os outros, nós que não estamos neste papel de destaque e os outros políticos, mostrar com nosso exemplo, que a ética é sim um valor substancial para formação do cidadão. Simplesmente porque as crianças e adolescentes precisam de exemplos claros e corretos sobre direitos e deveres diante da vida, para internalizarem os conceitos básicos de comportamento e compromisso com os outros e consigo mesmo.
Afinal, “fazer ao outro o que gostaríamos que nos fizessem” é algo tão básico e inerente às relações humanas que seria redundância repetir, mas vamos repetir mais uma vez para não esquecermos nosso compromisso espiritual.
A família está para a formação do indivíduo assim como o alimento está para a formação das células no organismo. Claro que estamos chamando de família todo grupo de pessoas que coabitam, com parentesco ou não, unidas por múltiplos laços capazes de mantê-los ligados material e moralmente, além de expressarem sentimentos de afinidade e cooperação. 2
Mais do que manutenção material, espera-se que os adultos de cada família possam transmitir a educação e os valores éticos às crianças e adolescentes em relação a todos os outros seres do planeta, de forma a dar sentido ao papel de cada um na co-criação.
Cada um de nós está imbricado na grande rede da humanidade muito antes de estarmos conectados na rede social da internet. Ensinar este valor, mostrando que as nossas atitudes causam um impacto nas atitudes dos outros seres independente de onde estejam, pode agregar à valorização da vida a valorização da ética. Isto é co-criação.
Vamos buscar ser corretos para com tudo e todos na frente de nossos filhos e filhas: devolva um troco errado, não jogue lixo na rua, não deixe água parada, não fure fila, ofereça ajuda sempre que puder – mas não tire a oportunidade do outro buscar por si – ofereça seu lugar nos ônibus, não force a “delação premiada” quando os irmãos fizerem arte, não agrida e respeite o tempo de cada um. Estas e tantas outras formas de dar o exemplo vão ensinar mais do que as longas broncas e castigos aleatórios.
As relações em família mostram às crianças e adolescentes as bases da relação na sociedade e, sobretudo, oportunizam a todos envolvidos nas situações a reabilitação necessária, como nos ensina Joanna de Ângelis 3:
“O ser humano de forma alguma pode viver sem os relacionamentos que lhe constituem fatores básicos para o enfrentamento dos desafios e o desenvolvimento dos valores que lhe jazem interiormente de forma embrionária.”
Além das relações sociais, o compromisso espiritual da família está registrado em nosso psiquismo, é natural que sejamos guiados para cumpri-lo por uma força instintiva, quer dizer, algo transpessoal, não racional nos chamará no decorrer da vida para assumirmos as tarefas acordadas antes do reencarne, é quase como dizer que assinamos um contrato e a fatura chegará para ser paga. E, sim, o esquecimento do passado como lei natural da evolução, irá oportunizar que refaçamos a caminhada, mas também vai dificultar para aqueles que são mais renitentes em aceitar a tarefa como compromisso espiritual, para estes haverá sempre desculpas e justificativas a fim de não cumprir os ajustes necessários entre parceiros de longa jornada.
Neste contexto, sendo a família o ambiente necessário e fundamental para darmos conta do nosso compromisso cármico, não seria um passo a mais se nós entendêssemos que todas as crianças e adolescentes de todas as famílias fazem parte do nosso compromisso espiritual também?
O brinquedo recebido no final do ano pode fazer com que as crianças, sem condições financeiras, sintam-se menos esquecidas pelo Papai Noel, mas com certeza, elas receberão muito mais se nos dedicarmos a elas nos outros dias do ano.
Isso quer dizer que se nós estamos em condições de ensinar, porque já estamos nos educando e já alcançamos um entendimento adiantado de valores, tais como empatia, respeito, solidariedade, cooperação e gratidão, podemos auxiliar na formação de muitas outras crianças e adolescentes, preparando-as para o planeta de regeneração.
Autora: Sheila Simões
Referências:
1. Kardec, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Trad. Pires, J.H. Cap. 11. São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1988.
2. Simões, S.T.C. e Geremia, C. A Diversidade Sexual Sob a Realidade da Alma. In: Durgante, C.E.A. e Aguiar, P.R.D.C. (Org.). Conectando Ciência, Saúde e Espiritualidade – Vol. 3. Porto Alegre: Francisco Spinelli, 2015.
3. Franco, D.P. O Despertar do Espírito. 9 ed./Pelo Espírito Joanna de Ângelis, pg.133. Salvador: LEAL, 2013.