Cada fase da existência física possui características próprias que consolidam o processo de amadurecimento do psiquismo humano. Cada novo estágio se constrói sobre os patamares do anterior, formando os alicerces complexos da individualidade.

Segundo o geriatra Dr. Carlos Durgante*, nossos tempos se caracterizam pela presença cada vez maior da longevidade, prevendo para as próximas décadas considerável aumento da população de idosos no mundo. Ainda assim, as fantasias aterradoras que acompanham a humanidade quanto à sua expectativa com relação a velhice atemorizam a maioria das criaturas – relacionando-a com decadência, amargura, solidão, doença e morte.

Trata-se de uma visão estreita que deposita os ideais de felicidade na possibilidade de gozos rápidos e sensações brutalizantes, a que as limitações do corpo agora se interpõem conduzindo o ser naturalmente a aspirações mais sutis. O centro da personalidade é atemporal.

Independentemente da idade orgânica e das condições limitantes que possam se apresentar do ponto de vista material, a mente se faz jovem quando idealista. Ninguém é solitário quando solidário. A morte faz parte da vida. A doença se apresenta como desafio existencial oferecendo maiores oportunidades de reflexão no campo dos valores morais, seja qual for o momento em que se apresente.

Atentemo-nos, no entanto, ao apego aos velhos hábitos – fruto da insegurança frente ao novo. Mudar e crescer é fundamental em qualquer etapa da vida. Aquele que jornadeia o entardecer da sua caminhada no mundo pode usufruir da tão almejada estabilidade emocional, decorrente de maior liberdade interior – quando não cronificados velhos preconceitos. É possível atingir maior auto compreensão e honestidade para consigo mesmo, com consequente respeito pelas decisões alheias, combatendo o confinamento de nosso mundo interior – este último, único que garante a verdadeira experiência de plenitude.

*No livro Conectando Ciência, Saúde e Espiritualidade

Michelle Ponzoni dos Santos
Psicóloga, psicanalista, junguiana