“Será que estamos cuidando de nosso jardim?”
Clenir Bueno
Alexandre Fontoura dos Santos
Não deixe de sonhar, mas enfrente as suas realidades no cotidiano.
Reduza suas queixas ao mínimo, quando não possa dominá-las de todo.
Fale tranqüilizando a quem ouve.
Deixe que os outros vivam a existência deles, tanto quanto você deseja viver a existência que Deus lhe deu.
Não descreia do poder do trabalho.
Nunca admita que o bem possa ser praticado sem dificuldade.
Cultive a perseverança, na direção do melhor, jamais a teimosia em pontos de vista.
Aceite suas desilusões com realismo, extraindo delas o valor da experiência, sem perder tempo com lamentações improdutivas.
Convença-se de que você somente solucionará os seus problemas se não fugir deles.
Recorde que decepções, embaraços, desenganos e provações são marcos no caminho de todos e que, por isso mesmo, para evitar o próprio enfaixamento na obsessão o que importa não é o sofrimento que nos visite e sim a nossa reação pessoal diante dele.
(André Luiz, do livro “Paz e Renovação”, Francisco Cândido Xavier)
Baseados nesta mensagem de André Luiz, que para nós é um convite a reflexão, busquemos situar tal tema no contexto familiar – núcleo onde geralmente vivemos nossos maiores embates e nos quais levaremos as melhores lições.
Em geral, toda relação amorosa começa com um sonho. Inicialmente, uma fantasia de encontrar a pessoa amada e, posteriormente, a realização do mesmo quando o encontro ocorre.
Quando acontece o encontro, geralmente mobilizado pela paixão, criamos novos sonhos que poderão se tornar realidade com a união de duas almas. Em geral, como nos fala Andre Luiz, os casamentos são uniões cármicas, devido às más vivências que nos precederam. Porém, há os que trazem no cerne o encontros de almas para engrandecimento mutuo e do conjunto. Sendo que todas as uniões também carregam consigo a possibilidade do crescimento espiritual.
Passado a fase da paixão e com a convivência, começam os conflitos. Geralmente estes ocorrem pelo maciço volume de projeções compartilhadas entre os membros de um grupo, neste caso o familiar. Vemos no nosso parceiro tudo aquilo de negativo que temos e que não reconhecemos, pela inconsciência de nós mesmos. Conferimos a eles, os mais diferentes atributos, dos quais, nós não identificamos como nossos por desconhece-los.
Queixas mil surgem e na grande maioria das vezes a união encontra o término.
Quando não, a família cresce. Agregando mais membros que receberemos com amor na perspectiva de um ninho feliz. Porém, nem sempre isso ocorre, porque estes entes que visitam nosso lar trazem consigo seus débitos passados, necessitando expiá-los em tal oportunidade. São traços de personalidade ou características e tendências do espirito encarnante, doenças, deficiências e outros.
Na chegadas dos rebentos, em geral, tudo são flores. Mas, como em todo jardim, exige trabalho, cuidado e muita dedicação. Nem todas as pessoas estão preparadas para abrirem suas vidas, ou seja: tempo, dedicação e amor incondicional ao outro. Por mais que acreditemos que sim. Presos no egoísmo e movidos pelos nossos interesses pessoais, nem sempre dispostos a “cuidar do jardim” quotidianamente. Deixamos crescer ervas daninhas que, sem percebermos, tomam espaço indevido, exigindo de nós cuidados redobrados.
As “flores do jardim” despontam cada vez mais belas. Nossos filhos crescem e, enxergamos neles o melhor. Afinal como pais terrenos, vemos nossos filhos como nossas produções, esquecendo que são espíritos eternos, filhos de Deus, assim como nós.
Porém, com o crescimento, aparecem também as dificuldades comuns da vida.
Muitas vezes cometemos o deslize de protegê-los, querendo só o melhor para eles. Poupamos do trabalho, esquecendo que este é a ferramenta básica para o exercício do burilamento do espírito. Evitamos as frustrações ao nosso lado, deixando que as encontre no mundo, onde não serão poupados.
Outras vezes, criamos no nosso lar campo de batalha por exigir deles aquilo que não realizamos. Ora um curso superior ou uma carreira, ora atitudes que mal conseguimos ter. Através das projeções naqueles que vemos como extensões nossas, colocamos toda nosso potencial de crescimento sobre seus ombros. Brigamos, criticamos, magoamos, exigimos. Fazemos com eles tudo que não conseguimos fazer conosco mesmos.
Nestas situações esquecemos as lições do Evangelho que nos falam sobre compreensão,
afabilidade, doçura e temperado pela perseverança. Atitude, esta, das mais necessárias na construção de uma família. Porque, ao perseverarmos, construímos a cada dia em nós, e ajudamos na construção do outro. Tudo se constrói, a paciência, a amorosidade, a união, a fé, a aceitação de nós e do outro. Tudo isso à base do dialogo, construto este que é imprescindível em qualquer relação, conosco ou com o próximo.
Enfim devemos ter presente que a nossa família/jardim é responsabilidade nossa. Se fizermos nossa parte, plantando, carpindo, aguando, cuidando, dedicando tempo e trabalho, terá boa forma, mesmo tendo a presença de partes indesejadas, constituir-se-a num conjunto harmonioso. Sabedores que somos que não existe perfeição neste estágio evolutivo, mas boa vontade e trabalho para o engrandecimento e iluminação do espírito encarnado.
Lembrando que as obsessões, fenômeno natural da vida, só nos acometem de fato se expormos nosso jardim ao mal tempo/comportamento. Assim, cabe a todos contribuirmos para o estabelecimento de uma psicosfera harmoniosa no lar, saturada de pensamentos e sentimentos edificantes, a fim de não comprometer os demais membros da família com as a interferências angustiantes que resultam de nossas chagas ainda não atendidas.
O contato com as dores perpassam todas as fases da existência terrena. O que difere, no entanto, de entregarmo-nos aos padrões revoltosos ou depreciativos que nos surgem sem a busca benfazeja da auto-lapidação. E a constelação familiar, com seus problemas e virtudes, é convite constante para exercitarmos essa busca rumo ao auto-entendimento, logrado sempre em conjunto ao próximo, que também se beneficia disso.